29 de outubro de 2013

Ó vizinha, dá-me salsa? (em três andamentos para abreviar)


1 (Allegro) - Sem família próxima, muda-se para uma casa das proximidades. Fecha-se numa oficina, a criar peças fantásticas. Começam, pela vizinhança, a estranhar a ausência prolongada. Batem-lhe à porta, aparece debilitado, febril, embrulhado num cobertor. Desdobram-se em cuidados de canja quente, de bolos saídos do forno, de fruta colhida no quintal. Dispõem-se ainda a acompanhar a uma ida ao médico. Volta a desenhada rotina, pois há que perceber que há ocasiões para se bater à porta.

2 (Largo)- Conhecimento de longa viagem de férias, pessoa afável e de interessante conversa. Vive num anónimo 7.º andar com letra (o prédio não se fica por ‘esquerdo’ e ‘direito’). «Não conheço ninguém por aqui, já cá moro há uns 5 anos»- confidencia num jantar oferecido aos conhecimentos de verão. Já há muito que por ali não vive, mas as coisas não terão mudado muito, ao longo dos tempos.

3 (Presto)- Prédio de vinte apartamentos, anterior morada a anteceder a fuga para o campo. Quatro horas da madrugada, tocam, com persistência, à campainha .Despertar súbito, pulsação descompassada «que desgraça anuncia o alarido?». Num repente, receia-se o pior. Voz desconhecida, pelo intercomunicador «é para abrir a porta, os nossos primos não têm como abrir a porta exterior, há uma avaria no trinco do apartamento». No dia seguinte, tentando evitar conflitos, bato à porta, a horas aceitáveis, voltando à situação inesperada, que não desejo ver repetida. À pessoal interpelação de as 4h da manhã não serem um momento conveniente, ouve-se, como num filme de Almodovar «não eram 4h, ainda faltavam quinze minutos!». Vizinhos: solidariedade, indiferença, estranheza […](quem não tiver histórias com vizinhos, que levante o braço)

A selva de cada um

O sol nasce sobre a selva, no Acre.


No domingo, estava lendo a crônica que Affonso Romano de Sant’Anna escreve sempre, no Correio Braziliense. Dele, guardo um carinho distante e uma inveja respeitosa. Ele não me conhece. Sou mais um dos seus milhares de leitores. Mas admiro imensamente o seu texto. É um dos melhores cronistas que temos no Brasil desses tempos de agora.

Reprodução da crônica de Affonso, publicada no Correio Braziliense. 
No texto de domingo, ele falava de uma viagem de avião que fez ao Acre. Das pessoas que viu durante a viagem e, bom cronista que é, foi entrelaçando uma história com a outra, dando um sentido comum a todos os personagens que lhe vieram à mente: De uma forma ou de outra, estavam todos ligados à selva amazônica. Inclusive ele. Inclusive eu, que o lia à distância.

Lembrei do Acre que conheço bem de perto. Já coordenei vários trabalho de comunicação por lá, em diferentes tempos. E guardo bem viva na lembrança a minha selva particular.

Vista do alto, a Amazônia assusta e atrai ao mesmo tempo. Impossível não temer, não achar-se minúsculo, diante de tanto verde. Lá de baixo, os sotaques, os sabores, os ritmos e os jeitos de pensar e agir daquela gente acreana me remetem à minha mais remota memória nordestina.

Seringueiro
O Acre é um pedaço da Amazônia, que um dia já foi Bolívia. E que foi preenchido em grande parte por nordestinos do Ceará, do Piauí, do Maranhão... Os primórdios dos anos 40, do Século passado, viram nascer os primeiros contingentes de Soldados da Borracha. Uma gente desbravadora, convocada para ocupar os seringais e produzir borracha, produto de grande importância que tornava-se escasso com o avanço da Segunda Guerra Mundial.

Aquele lugar reúne histórias e personagens que habitam um Brasil distante, ainda hoje, esquecido. Do império de Galvez, aos rituais indígenas do yahuasca, o texto de Affonso Romano de Sant’Anna me transportou no tempo e me lançou à selva.

Boto
Por um instante, pensei no quanto me senti longe, naqueles dias de Acre. Ao mesmo tempo, o quanto me reconheci e me encontrei comigo mesmo, internamente. Um fim de tarde na Boca do Moa – encontro entre os rios Juruá e Moa – é inesquecível. Pela festa inusitada de dezenas de botos e pelo pôr-do-sol.

No ano passado, às vésperas de fazer 50 anos, me vi desafiado a cruzar 700 KM de selva ou ficar por lá, e começar os cinquenta sozinho. Arrisquei. A aventura está descrita em um curto texto, aqui. Tendo tempo e interesse, confira. 

No domingo, revisitei minha selva interior pelas linhas de Affonso Romano. E cada vez que faço isso volto com o olhar rejuvenescido. Como um Brasil novo, ainda por ser descoberto.  

Texto escrito originalmente para a coluna "Olhar Poético", que assino semanalmente, no Blog Hoje Vou Assim, da Cris Guerra

27 de outubro de 2013

As Centenárias

«Um Beckett sertanejo que traz a inexorabilidade de nosso fim, mas com diversão e picardia» (Newton Moreno)

Zaninha e Socorro são duas carpideiras centenárias do interior do nordeste brasileiro que entoam incelências (cânticos em virtude dos falecidos) e choram a morte dos outros, ajudando-os a “passar para o outro lado”. 
Nestas suas viagens pelo sertão brasileiro vão criando uma ligação única, que as converte numa dupla muito especial. No entanto, e paradoxalmente, estas duas “antigas” mulheres temem a morte e vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para dela escapar.

“As centenárias”, espetáculo com encenação de Natália Luiza e interpretação de Catarina Guerreiro, Flávia Gusmão e Sílvia Filipe poderá ser visto até dia 10 de Novembro no Teatro Meridional.
O espaço onde se desenvolve a ação é quase sonhado, onírico, meio sombrio e incerto; mas que ao mesmo tempo, com o desenrolar da história se vai transformando em “todos os lugares”.

"As Centenárias"-Fotografia Nuno Figueira

De acordo com Natália Luiza, o mote para a escolha desta peça de Newton Moreno foi, não só a oportunidade de trazer a palco um português cuja musicalidade homenageia a nossa língua e nos leva a outros lugares; mas também a necessidade de contar uma história que nos ponha em confronto com a morte, condição a que todos igualmente estamos sujeitos.
O sotaque do nordeste dá uma dimensão enternecedora, mas também divertida às personagens, já que para Natália Luiza: “fazê-lo de outro modo seria escrever outro texto”.
As carpideiras personificam-nos, simbolizam a nossa dificuldade de enfrentar a condição finita que nos assiste: ainda que o “nada” atemorize é também ele que nos define.
 Estas personagens levam à reflexão inevitável sobre a necessidade do choro e do luto, num mundo onde se reprimem as emoções e tudo acontece a uma velocidade desarmante. 


"As Centenárias- imagem de Nuno Figueira"

Deparamo-nos com uma história fechada, que contraria de forma assumida as narrativas fragmentadas e de livre interpretação.
 Este espetáculo compromete-se, estrutura-nos, dá-nos referências e princípios muito claros, sem por isso nos tirar a individualidade.

De forma subtil vamo-nos questionando sobre a efemeridade da vida, o luto, o silêncio e a forma como a amizade – personificada através de Zaninha e Socorro – pode ter um papel estruturante e fazer a diferença enquanto nos vamos escapando da morte. 
Há muito que desejávamos ter um anuário destes. Ontem foi. O Miguel conseguiu um preço fantástico e veio carregado com eles, feira abaixo. A quantidade de informação disponível é impressionante. Viagem no anuário do tempo.





Almanaque

O Miguel mostra a revista Almanaque que esteve a recuperar. Para completarmos a colecção só nos falta uma. Falta instalá-las na estante, em lugar de honra.

Short cuts - Amizade



O menino e seu cão
O menino e seu cão. O cão e seu menino.

Fazia um calor senegalês, na comunidade do Areal, nos arredores de Brasília. Sol escaldante, enquanto a população prestigiava a entrega de um parque novo. Meninos e meninas jogando bola - nessa fase da vida, para eles, pouco importa a intensidade do sol - dispunham da felicidade de ser criança, sem importar-se com outra coisa qualquer.



Num canto do parque, uma solenidade oficial de entrega da obra. Em meio às pessoas que acompanhavam o evento, percebo um garotinho de pouco mais de dois anos, em companhia de um cão.  Meu olhar fica paralisado e passa a segui-los.

Percebo que a amizade é nova e verdadeira. De vez em quando, o cão escolhe outro lugar à sombra, entre as pernas das pessoas que estão ali. O menino o acompanha. Senta-se ao lado. Olha nos olhos do cão com um olhar de quem não abre mão da amizade.


Falam mutuamente a linguagem silenciosa e cúmplice dos inocentes. O cão sabe que o carinho é sincero. O menino não faz ideia da vida, mas percebe a natureza amiga do cão. Sob a sombra, entre as pernas de gente grande. Os dois, nem ai. Selam uma amizade definitiva. Lá fora, faz um calor senegalês, na comunidade do Areal, nos arredores de Brasília.

Os livros de T

O recado de T
Sexta-feira à noite. Chego em casa e encontro um pacote do correio. Quem me manda é Ivone Stepansil. Dentro, outro pacote com um recado da Teresa Guerreiro. Deduzo ser o livro que desejei dar de presente de aniversário a meu pai, quase um mês atrás.

Os livros de Teresa (no alto, à esquerda), para atravessarem o Oceano,
contaram com o empenho de Ivone (no alto, à direita) e Celso
(embaixo, à esquerda). Hoje, chegaram às mãos de meus pais.  

Sim, estou certo. Antes de abrir, penso no tanto de amizade que o pacote contém. A de Ivone, que conheci tempos atrás, quando estive em Lisboa. A de Celso, que me apresentou Ivone. A de Tereza, que conheci por meio da internet. Quanta gente se envolveu para que aquele pacote chegasse às minhas mãos e, por elas, ao meu pai.

Livros da T.
Abro e vejo que Teresa fez mais do que me mandar um livro. São quatro. Há também um recado escrito no envelope e muitos postais lembrando um sentimento de orgulho por sua terra, Portugal.

O cansaço só não vence a minha alegria. Aviso o meu pai que seu presente, finalmente, chegou. E dou o  dia por findo.

Amizade de domingo

Hoje, domingo, céu aberto e azul. Pego o carro e vou ao encontro de meus pais. Moram aqui perto, no mesmo condomínio. Encontro Isabel, minha mãe, feliz como criança. Cadê meu pai? Está no quintal.


Viegão, de chapéu, cuida de proteger a primeira florada de um abacateiro que ele mesmo plantou, sete ano atrás. Entrego os livros pro meu pai e os cartões para a minha mãe. Os dois ficam em êxtase. Minha mãe me chama para ver outra "maravilha". Senta-se ao gramado, feito criança, e se orgulha da jaboticabeira e dos seus frutos. Isabel está feliz com suas flores e seu pomar e seu jardim. Me faz tirar fotos, muitas. Junta o marido, os netos, por fim, o filho.

Isabel e suas jaboticabas. Alegria de criança. 
A florada do jardim de Isabel. 
Os Viegas em sua praça preferida. 
Alegria de domingo.
Penso que a vida nos fez mais do que pai, mãe e filho. Somos amigos, como só os domingos compreendem.

A biblioteca de meu pai

Meu pai, seus melhores amigos e uma dose de Napoleon.
Os livros estão entre os melhores amigos de meu pai. Ele não larga os livros que ganhou. Deixa o quintal e o abacateiro. Corre para a biblioteca e me chama. O presente merece um brinde. Busca uma garrafa de Cognac Napoléon na prateleira. Duas taças. Um brinde às amizades. Novas e antigas. Pede o endereço de Teresa, quer agradecer-lhe por escrito. Meu pai, seus livros, nossa amizade.

Plantas amigas

Orquídeas do meu jardim. 
Faz um ano e meio chegamos a esta casa. Antes de tudo, meu combinado com  Mara deu tratos ao jardim. Hoje, na volta da casa de meus pais, percebo que o jardim nos responde com flores e alegria. As orquídeas se abriram numa demonstração de que a beleza da vida está nos detalhes.

Elis e a canção dos amigos

Haverá forma melhor de concluir esse post? Elis Regina - Canção da América. Porque o domingo e as amizades merecem.


Elle, Elle | Parfums Lucien Lelong


BienAimé

24 de outubro de 2013

O jarro

Comprei o lavatório, faltava o jarro. Encontrei-o hoje, na rua atrás de um caixote de lixo.. Esvaziei-o e peguei nele pela asa. Agora o conjunto está quase completo.


O acaso do dia



A cor azul do dia em nada combina com o meu estado de espírito. Lá fora, o dia brilha. Em mim, internamente, o tempo é de chuvas e trovoadas. Dessas tempestades que se assemelham a furacões. Que, por onde passam, vão deixando a terra arrasada.

Apesar dessa convulsão temporal interna, a vida exige equilíbrio, sob pena de se perdê-la. Então, recorro à belezura externa do dia para alcançar um mínimo possível de equilíbrio interno. O que dê pro gasto. O que me leve até a virada do próximo dia.

Maria, a caçadora.
Na saída de casa, cruzo a parede de vidro que compõe a divisa entre a sala e o jardim e quase piso em um pássaro estendido ao chão. "A Maria, atacou de novo..." penso comigo, atribuindo aquela imagem a mais uma das investidas da lhasa apso que temos em casa e que, volta e meia, testa o seu instinto de caçadora em passarinhos desavisados.

Percebo que não é um pássaro comum. É um beija-flor. E dos grandes. E percebo mais, ele não está morto. Esqueço o resto. Esqueço a tempestade interna. Clareio o dia diante do acaso. Diante da possibilidade de entender o que aconteceu a aquele pássaro e de salvar-lhe a vida.


Solto minha pasta, a chave do carro, largo tudo. Me abaixo e o apanho com a mão. Sim. ele está vivo e assustado. Paralisado. Presumo que ele tenha sido enganado pela imagem refletida do vidro. O que pensou ser um pedaço de céu, era uma parede de vidro. E o choque, em pleno voo se transformou em acidente de percurso.

Ele já teve sorte demais. primeiro por estar vivo. Depois, por ter ficado um bom tempo na calçada de casa, sem que a Maria percebesse. Carrego-o até o bebedouro. Vejo aquela delicada língua se mover, num vai-e-vem típico dessas aves. Ele abre os olhos. Bebe mais água. Volto pro jardim pensando em colocá-lo protegido, numa planta com flores vermelhas que eles adoram.

Hora do descanso.
Me lembro que, bem ao lado existe uma árvore em que eles costumam descansar, depois de suas rápidas investidas nas flores. Aproximo a minha mão de um dos galhos. Abro a mão e ele começa a bater assas, como um pequeno helicóptero, parado no ar. Zás! Dispara por entre os galhos. Ganha o muro azul e pousa.

Fica me olhando enquanto eu também o encaro. Eu lhe salvei a vida. E ele sem querer me salvou o dia.


23 de outubro de 2013

Presépios

É altura de começa a pensar no presépio, eu e as pequenitas gostamos muito dessa actividade. Este ano talvez a A já entenda a diferença entre barro e borracha, talvez...Entretanto espreito para dentro do armário e vi a minha bonecada e santinhos todos ali à espera. E penso que saberão que o meu presépio reúne sempre muitos elementos diversos e pouco consensuais. No escuro do livreiro, aguardam. Mais umas semanas e estarão à luz...


22 de outubro de 2013

O lavatório

Olhei para ele, na rua em frente à loja em São Bento. Apaixonei-me logo e namorei-o quase um mês. Hoje decidi-me e chegou aqui a casa há pouco. Ei-lo num cenário de livros, que é o que acontece nesta casa a tudo...Mas irá para o quintal, pois claro.



A passar por uma ruazinha estreita

Sorrio ao ver este pássaro e não registo a fotografar.


20 de outubro de 2013

Um quiosque exemplar, Clara Clara

É uma pequena maravilha, escondido no Jardim de Santa Clara. Uma vista sobre o rio que nos inunda, uns croissants leves e um serviço agradável e atento.O jornal do dia está disponível e resta-nos descansar após o percurso íngreme da feira da Ladra, a beber um bom café e espreitar o saco das compras. Abre todos os dias:)  Ainda há  pois pequenos paraísos em Lisboa e que viva o Clara Clara!





Ontem, na feira da Ladra






19 de outubro de 2013

Manuel António Pina : «Chamo-lhes crónicas porque não sei o nome disto»


Desde o início do verão a saborear Crónica, Saudade da Literatura, textos de imprensa do presente século, da autoria de Manuel António Pina, editados há 5 meses pela Assírio e Alvim. Saborear será, decerto, o verbo acertado para os pedaços de prosa legados pelo poeta-cronista , consciente opção no intuito de o sentir mais presente em cada dia que, com maior ou menor vagar, se sucede. Palavras que surpreendem pela atualidade lúcida: um sentido de humor único, mesmo na abordagem a temas muito sérios (humor, sobretudo em tempos mais árduos, equivale a inteligência). Atrai a leveza da escrita. Do conjunto de textos, destaca-se a ênfase dada aos tempos de crise, a denúncia da (in)cultura de muitas figuras com responsabilidades nacionais, as considerações sobre o cinema com maiúscula (arte e não mero fogo de artifício), as ideias sobre a beleza (ou sua ausência), sobre o sentimento de felicidade, passando ainda pela música, pela BD, por poetas próximos ou mais distantes, o apontar do dedo a preconceitos, a denúncia a ideias feitas, a formatar uma realidade chata. Pina situa-se nos antípodas do chavão, do lugar-comum. Fica a gratidão por quem nos torna mais interessante a existência.
A preparar uma recensão sobre este conjunto de crónicas, ficam algumas linhas soltas quando, por coincidência, se completa um ano da sua morte.

«Tintin e os outros […] chegaram à minha vida na infância como o Cavaleiro Andante e, como na canção de Maria Bethânia, instalaram-se para sempre feitos posseiros dentro do meu coração. Com eles fui à Lua e viajei  por todos os mares do mundo, subi aos Himalaias e desci aos negros porões da alma humana […] defendi os fracos e enfrentei opressores e ricaços sem escrúpulos […] convivi com guerrilheiros, com tiranos, com comerciantes, com sábios, com iluminados… Se algo de essencial aprendi […] das minhas aventuras com Tintin foi o desprezo da infâmia e a “linha clara” da coragem e da justiça.» - Manuel António Pina, JN, 24/5/2007

O "poetinha" é 100


Short cuts vinicianas

A falta que ele nos faz

Vinícius de Moraes
Se estivesse vivo, Vinícius de Moraes estaria fazendo cem anos hoje. Sua poesia, suas canções e suas histórias de amor permanecem vivas. Mas o mundo sem ele, não há como negar, ficou muito menos divertido e romântico. Que falta nos faz o poetinha!

O melhor amigo do homem

A companhia permanente
do melhor amigo do homem, engarrafado.
Certa vez, na abertura de um dos muitos shows que fez na Itália, Vinícius saiu-se com essa:
"Se é verdade que o cachorro é o melhor amigo do homem, o Whisky é o cachorro engarrafado".

Soneto da Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.



Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento



E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes



Uma tarde em Itapoã

Meu encontro com o poeta
Um dia, correndo pela praia em Salvador, na Bahia, cruzei com o poeta. Ele já não estava mais aqui. Mas a sua imagem imortalizada em bronze, numa praça da cidade, perto da praia que ficou famosa por meio de uma das suas canções mais conhecidas, causou-me a mesma emoção de um encontro definitivo. Um dia, (quem haverá de dizer que não?) eu estive com Vinícius, numa tarde em Itapoã.