27 de novembro de 2011

Sul



Uma manhã límpida a lembrar o verão . Parece ter-se chegado a outro país. No jardim, ao longo da ria, um mercado de roupas como tantos por aí. Poucos metros à frente, a praça, de onde espreitam cores e aromas de frutos e de legumes, aprazível sobrevivência de grandes espaços tradicionais.
Pelo jardim, uma senhora passeia-se com uma colorida arara amarela e azul poisada no ombro, sem que os transeuntes lhe dediquem notória curiosidade, o que leva a crer ser a presença habitual. Reparo que a ave é mais obediente do que a criança que a acompanha. Dois amigos conversam e trazem consigo um cão de nome Sushi que fazem questão em chamar por diversas vezes (a escolha afigura-se insólita).
Sento-me na esplanada a ler o jornal e a afugentar a irrequieta vespa, atraída pela garrafa já vazia de sumo de pera, a anteceder o café. Estranho a visita deste inseto hostil, visto estarmos a caminho do inverno. Salva-me a interessante reportagem que leio, votando ao esquecimento zumbidos e receios.
À frente apetece conversar com as gaivotas percebendo que, pela placidez apresentada, decerto terão sido alimentadas com generosidade pelos tripulantes das traineiras “antes conversar com gaivotas do que contar corvos” - penso a sorrir.

3 comentários:

Luísa disse...

A Teresa não gosta mesmo nada de corvos. :D (sempre que vejo um lembro-me de si, pois eu acho-os fascinantes. Já as gaivotas... irritam-me um bocadito).

Mas parece que essa do tempo "fora de tempo" é geral. POr aqui anda-se com um casaco pouco quente e sem luvas. Não chove há que tempos e as montanhas, se forem vistas de cima, são castanhas e não brancas. Cada vez que penso que em meados de Outubro chovia e nevava ao mesmo tempo... :s

teresa disse...

Não gosto muito, Luísa, quando as minhas filhas eram pequenas inventava as histórias que me pediam todas as noites e entrava sempre o corvo como símbolo do mal... :) (dei-lhe o nome de Pássaro Faísca e exigiam sempre a sua presença em todos os 'episódios' da saga «Bruxa do Mar» que devia ter passado à escrita).

No entanto, essa de «contar corvos» foi uma brincadeira com duplo sentido, referência à banda «Counting crows».

Relativamente às gaivotas, gosto delas por me evocarem algumas músicas de que gosto, embora há alguns dias, no pátio para onde dá o local onde trabalho, tivesse visto uma (o pátio não é mantido muito tempo limpo, uma guerra que não conseguimos vencer) com um pedaço de lixo no bico, o que me fez começar a vê-las com outros olhos...

AnaMar (pseudónimo) disse...

Delicioso momento. Detesto Corvos, e aprendi há pouco tempo a gostar de gaivotas. Na verdade foi uma que me cativou, vindo até mim, pedindo alimento, tornando-se visita assídua na varanda do hotel:-)