28 de agosto de 2009

OS CINEMAS TAMBÉM SE ABATEM

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Numa crítica de cinema, de há muitos anos atrás, Eduardo Prado Coelho escrevia: “Às vezes lembro-me melhor das salas onde vi os filmes do que dos próprios filmes.”
Nunca percebeu muito bem onde Prado Coelho queria chegar.Tem uma vaga ideia, apenas. Também se recorda de algumas salas onde viu os muitos filmes da vida, mas são sempre os filmes que lhe norteiam a memória.
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O “Cinema Alvalade” foi uma sala que nunca lhe despertou qualquer tipo de entusiasmo. Ficava fora de mão mas, acima de tudo, tinha uma “assistência queque”, proveniente das avenidas novas, que, na altura, o incomodava sobre maneira, ele que quase sempre andava em cinemas de bairro,vulgo os "piolhos".
Provavelmente uma mão chegará para contar as vezes que entrou no “Alvalade”. Desta recorda-se porque ficou com o programa, uma outra foi para rever esse espantoso filme de Richard Brokks, “Gata em Telhado de Zinco Quente", com uma espantosa Elizabeth Taylor e um não menos espantoso Paul Newman.
Não sabe exactamente o dia em que assistiu ao "Dia da Violência" mas no programa pode ler-se que a partir das 21,15 horas do dia 14 de Novembro de 1975 o “Alvalade” passava a exibir o filme de Roger Corman, um realizador pouco amado e conhecido na História do Cinema como o “Rei da Série B”.
O filme tem uma brilhante interpretação de Shelley Winters no papel de uma mulher que, juntamente com os filhos, dirigia, na década de 30, um gang de assaltantes.
Curiosamente, apesar do trabalho de Shelley Winters , o programador, sabe-se lá porquê, dedica-se apenas a referir o actor Don Stroud .
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Antes do filme era exibido o documentário “O Rapto”.
O “Alvalade” abriu as suas portas em 1953 e deixou de ser cinema, passados uns anos após o 25 de Abril, para servir de palco à histeria colectiva de uma seita religiosa.
No ano de 2003 o edifício foi demolido e hoje, a nova construção, é um aglomerado de lojas e andares para habitação e escritórios, muitos ainda por alugar.

7 comentários:

T disse...

E tem um cinema, aliás muito frequentado e que tem realizado muitos ciclos de cinema bem interessantes.

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1075902

gin-tonic disse...

Não fosse um preconceituoso de última gaveta, quando foi tirar a fotografia, tinha lá ido cheirar. Mas não! Mesmo depois de demolido, uma nova construção, o espaço continua a fazer-lhe cócegas na sola dos pés. Uma longa história que não é para aqui chamada e que nem Freud explicaria...
Obrigado T. pela achega. Nada como ter uma editora atenta.
Boas férias.

T disse...

De nada:)

César Ramos disse...

Caríssimo Gin,

Grato pelo seu post, que foi um pouco o ombro onde me apoiei...

Prado Coelho escreveu porque sentiu,... logo disse uma realidade!... ontem, levei um 'coice na testa' ao ver o meu querido Jardim Cinema (sala de espectáculo e salão de bilhares) travestido de «Megastore Ofraglov»[pronto a vestir, parece]!

A minha 'Meca' profanada por trapos!... santuário de paixões, revoltas, cumplicidades e companheirismo de luta,... feita em farrapos!

Senti-me mal!... E não me lembro de filme nenhum...

Um abraço

gin-tonic disse...

A vaga ideia que tinha sobre o que o Prado Coelho queria dize, não chegava à lucida interpretação que o César Ramos faz. Não tem qualquer dúvida, agora, do que se pretendia dizer. É por estas e por outras que conversar é tão importante como o ar que se respira.
Também andou pelo "Jardim Cinema", os filmes, os bilhares - "É proibido o massé".
Por ali perto o
aspecto miserável que o "Paris" apresenta, demonstra a leviandade, o que quer que seja, com qua as autoridades encaram a cidade. É impossível que esta gente goste da cidade onde vive, ou pelo menos trabalha.
Também um abraço

César Ramos disse...

Pois não,

Esta gente não gosta da cidade!

Serve-se dela para se guindar no Poder, na ganância da fortuna... mina de garimpeiros!... depois,... é o abandono... o desprezo... o Cinema PARIS!... vi lá muitos fimes: bíblicos, históricos, Eddy Constantine, cowboys, amor, e muitos livros e revistas para troca e/ou aluguer no corredor a céu aberto, ao lado, na 'banca' do Eduardo dos livros.
Logo acima, a Foto Paris, o elegante e bem parecido fotógrafo sr. Simas... o artista de imagem do povo do bairro e dos artistas... ia lá o Calvário, o Artur Garcia, a Madalena Iglésias e, também, o grande (como Gente) Fernando Farinha [o miúdo da bica]!

O "Cine Paris" saíu da Rua Ferreira Borges e mudou-se para ali, na Rua Domingos Sequeira nº30em Abril de 1931, até aos dias de agora... 'nobre' ruína da 7ª arte, 'catacumba' da Cultura, do património e, Estátua do Desprezo
inaugurada pela Indiferença(...)

Camarotes, balcões,«fauteuils», 281cadeiras e 119 gerais!...Lotação esgotada no espectáculo de como é tratada a Cultura!

Ali não havia espaço para futebol(...) mas, Domingos Sequeira, um dos mais brilhantes pintores da Europa, não merece aquele quadro!...
e nós, também não.

Cristina Tomé disse...

Convido-vos a visitar o meu blog Cinemas do Paraiso, onde tento fazer um apanhado das salas de cinema de Lisboa que foram desaparecendo ao longo do tempo e que merecem ser recordadas: http://cinemasparaiso.blogspot.com.

Visitem e comentem!!