29 de março de 2009

Portugal Pittoresco e Illustrado

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O exemplar aqui apresentado é uma preciosidade, embora o tempo, bem como situações imprevisíveis, tenham contribuído para a sua degradação: pertenceu ao avô materno de quem ficaram memórias algo nubladas, pois tinha idade de bisavô. Fui a única neta que vagamente o conheceu quando a saúde lhe começava a faltar. Esta obra tem vindo a passar de geração em geração. Optei por transcrever parte do primeiro capítulo, respeitando a grafia da época. Trata-se de uma edição de princípios do século XX, impressa na Rua Ivens, nºs 45-47, morada onde se encontrava localizada a tipografia da editora.

Antes do terremoto
Com razão se pôde dizer – e já Frei Apolinário da Conceição o affirmava na sua Demonstração histórica da parochia dos Martyires – que tantas são as singularidades de Lisboa, e taes suas grandezas, que impossibilitam os mais fervorosos animos para descrevê-las todas; «e só sim summariamente».
A velha Lisboa, a capital deste maravilhoso reino que assombrou o mundo, sumiu-se debaixo de um montão de ruínas e de cinzas. Da pavorosa catastrophe de 1755 apenas escapou o bairro mais sórdido: a parte mais nobre da cidade, os seus melhores edifícios desabaram e arderam.
A cidade conquistada pelo primeiro monarcha portuguez, e por elle libertada do jugo mauritano, e que duas vezes teve a honra de ser a primeira a levantar o grito de liberdade e de independencia contra os estrangeiros; que proclamou Mestre d’Aviz, e trezentos annos depois o Duque de Bragança; que viu sair do seu rio as poderosas armadas que fizeram formidavel o nome portuguez – a velha cidade, empório do commercio do mundo, enobrecida por muitas memorias gloriosas, patria de insignes varões, e predilecta do Rei Cavalleiro, o heroico D. João I, foi abatida e prostrada por um cataclismo, como não ha memoria de outro na Europa, nas eras modernas.
Portugal Pittoresco e Illustrado: Lisboa - Compilação e Estudo por Alfredo Mesquita, 1903, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, Sociedade Editora

8 comentários:

T disse...

Que foi reeditado pela Arquimedes Livros há pouco em fac-simile. Consegue comprar-se na Anchieta e nem é caro.

T disse...

http://www.arquimedeslivros.net/

E

http://diasquevoam.blogspot.com/2007/02/o-meu-amigo-cp-apareceu-ne-sexta.html

teresa disse...

Beeeem! Só há dias é que percebi - pela tua dica - que podia pesquisar se alguns assuntos já aqui tinham sido abordados. Este nem me dei ao trabalho, dado o livro ser relativamente antigo... quanto à obra de Ferreira de Castro que idealizei existir lá na casa paterna, ninguém se lembra dela, embora tenha encontrado dois enormes volumes sobre as maravilhas artísticas do mundo (será este o título?) com texto do escritor. Este livro aqui postado que afinal não é novidade cá pelo "Dias", trouxe-o hoje a pensar que seria qualquer coisa de diferente (mas tu antecipas-te sempre)...
Também sou do tempo em que era necessária autorização especial para folhear manuscritos e agora já tudo é consultado de acordo com as modernidades dos tempos e em versão digitalizada nas bibliotecas centrais.
Uma última pergunta (um pouco off the record): estão a vender computadores Magalhães na Feira da Ladra? É que és visita customeira (já não vou lá há décadas) e li que algumas famílias subsidiadas estão a negociar os computadores que recebem quase a custo zero, tempos de crise!...:(

T disse...

Os assuntos nunca se esgotam, antes se complementam:) E foi o caso.
Quanto a Magalhães já vi à venda sim, mas muito clandestinamente e desaparecem quando a polúcia aparece, risos.

teresa disse...

Estou "avergonhada", queria ter escrito "costumeira":(:(

T disse...

E eu que escrevi polúcia?

Unknown disse...

Estava muito bem a ler: "A cidade conquistada pelo primeiro monarcha portuguez...", quando me pûs a divagar...
O que diria o "primeiro monarcha" do país actual?
E divaguei... divaguei...

Conclusão: Não sei se foi bem para isto que D. Afonso Henriques avançou sobre Lisboa...

Desculpa o delírio. :)

teresa disse...

Não há que pedir desculpa,embora também se desconheça se o primeiro monarca seria "conssiente" (é que ainda não se vivia em tempos de "accountability"):)