23 de janeiro de 2009

Memórias: o ardina

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Recordo a primeira récita na escola primária. A professora de música, senhora com dotes artísticos e hoje de idade respeitável , ainda participa em exposições de pintura. Na época, decidiu fazer uma coreografia intitulada "pregões de Lisboa".
Tocou-me a mim representar um ardina, sendo então a estatura idêntica à do que se encontra na imagem. Curiosamente ainda sei esta canção de memória, não tendo esquecido uma única palavra.Os outros retratos eram o da vendedora de água (cantarinhas, feitas de barro singelo de Estremoz ou de Barcelos...), da varina (cheira a sol e a maresia, Maria do mar...), da mulher da fava rica (para matar a larica/não há melhor manjar)...
Durante a apresentação perante uma plateia considerável, lembro-me de sentir o coração descompassado. Ganhando confiança ao longo da representação, o sentir foi o da vantagem em repetir regularmente a experiência de teatro na escola.
Muito tempo mais tarde, já como professora, os jovens sugeriram levar algumas dramatizações despretensiosas para fora do estabelecimento tendo representado, durante dois anos consecutivos, em instituições de idosos e de crianças na nossa região.

Segue-se o "pregão do ardina":

Pé descalço, manhã cedo
Cheio de vivacidade
Corro depressa e sem medo
De lés a lés a cidade.
Trago notícias fresquinhas,
Vindas de última hora
Já ganho para as batatinhas,
Trabalhando sem demora.
"Olh' ó Século, Olh' ó Diário!"

Autora: Aurelina Brandão

P.S: apesar de prezar estas lembranças, que não sejam encaradas como uma apologia ao trabalho infantil...

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