25 de dezembro de 2008

ABERTO NO DIA DE NATAL


Lá muito para trás, mesmo muito, o alfarrabista que, num qualquer domingo de Inverno, deixou escrito na porta da loja que tinha ido para casa porque estava triste.
Há dois, três natais, quando começou a olhar a tristeza cinzenta que fica no fundo das garrafas vazias, levantou-se, levou a beata do charuto, o copo de gin e pôs-se a fazer entediado zapping pela blogosfera. Foi ter a um dos blogues de José António Barreiros e deparou-se-lhe um bonito texto, que lhe falava de um alfarrabista que, em Sintra, estava aberto no Dia de Natal.
Uma luminosidade feliz encheu-lhe o rosto. Reacendeu a beata, disponibilizou mais uma dose de gin. recortou a história e guardou-a. Foi agora buscá-la ao baú natalício:

“Foi hoje em Sintra, na Volta do Duche, num recanto de uma curva, antes de se chegar à estação. Aberta em dia de Natal, uma livraria-alfarrabista. A juntar à surpresa do encontro, a magia do local, o fantástico das coincidências. Nem me lembro sobre o que conversámos, pelo canto dos olhos encontrava-os, livros que tenho, livros que fui perdendo, livros de que me desapossaram. Ali um Gandra, além um Viterbo, depois os da editora de Colares, que agora é aqui, «do outro lado da rua». Tudo se tornou familiar e mais ainda com a raridade de um nome raro: chamava-se, tal como a minha filha, Adriana, Maria Adriana! Casada com um inglês, Mister Jones, Maria Adriana Jones é conhecida pelos miúdos locais como a Indiana Jones. Na selva dos livros, ela move-se entre os Salteadores da Arca Perdida. Vê-se pelo brilho nos olhos que ama os livros, a ponto de os presentear com a porta aberta ao mundo no Dia de Natal”

5 comentários:

T disse...

Os textos do José António Barreiros possuem esse condão raro. Deliciam-nos e ficam na nossa memória. Gosto muito de o ler.

José António Barreiros disse...

Bom dia.
Uma estranha sensação percorreu-me ao descobrir, de súbito, que era de mim que se falava neste post. Reli o meu próprio texto e eis o eco do que vi, do que senti, nessa tarde em Sintra, como quem recorda um odor e um sabor familares do Natal da sua infância.
Obrigado ao Gin-Tonic, Obrigado à T.

teresa disse...

Penso tratar-se de uma livraria numa bonita moradia, mesmo a seguir à "Casa de Queijadas da Sapa":)

João Francisco disse...

Ainda existe este local precioso?

João Francisco

teresa disse...

Existe, sim, mas estive há dois sábados a falar com a proprietária e em horário de Inverno só abrem a porta ao sábado, disse-me ela que os clientes são, na sua maioria, visitantes da nossa bela vila. Por isso mesmo, desistiu de «apanhar frio» (foram as palavras da senhora já idosa) aos dias de semana, por não ter quem vá até ao estabelecimento comprar livros ou postais antigos.