23 de junho de 2007

A ida para as Caldas

"Reaparece-nos a estação dos caminhos de ferro de Santa Apolónia, aos sábados de verão.
Os ruídos da multidão apressada e alegre; o grupo das senhoras que vão para o Bussaco; a multidão pitoresca dos habitantes do Ribatejo com os barretes azuis, os cajados, os alforges de lã preta com riscas brancas e azuis; os toireiros que vão para Vila Franca ou para a Alhandra, com as suas jalecas de alamares, as cintas de seda e o chapéu castelhano caído sobre o olho; a escalada às carruagens com os sacos, os couvre pieds, com os cartões das senhoras, com o cabaz do lunch e com o moringue de Estremoz(...)

Depois o transbordo no Entrocamento. Passageiros para o norte, passageiros para o leste. Os que entram pela porta de cá no bufete esbarram nos que entram pela porta do outro lado.
Os encontros e as separações realizam-se à pressa entre o prato do meio bife e a chávena de chá preto. A umas senhoras que chegam, ouvem-se risadas espanholas, porque há uma língua para o riso exactamente como para a palavra, e entre a gargalhada irlandesa e a gargalhada andaluza existe um abismo. Na estação do Entrocamento sobressaem os passageiros em chinelas, que não se encontram no Porto quando de lá se parte, porque então ainda não têem tirado as botas , nem se encontram bem em Lisboa quando lá se chega, porque já as têem calçadas. O Entrocamento é a estação especial dos transbordos e das chinelas"


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Banhos de Caldas e Águas Minerais, Ramalho Ortigão, Ilustrações de Emílio Pimentel, Livraria Universal, 1875

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