22 de fevereiro de 2007

Perdoe-se a afronta!

De repente, e a propósito deste concurso dos Grandes Portugueses, surgiu a polémica: será possível a um canal de televisão - público ou concessionado - fazer um programa, reportagem ou documentário, em que se glorifique a obra de Salazar sem que qualquer aspecto negativo seja sequer mencionado?

Devemo-nos lembrar que Salazar foi a face – na verdade foi mais que a face, foi todo o corpo – do regime ditatorial fascista que vigorou em Portugal, durante mais de cinquenta anos. Embora admita que esse regime foi meritório em muitos aspectos sociais e económicos, especialmente nos seus primeiros anos [até ao fim da Segunda Guerra Mundial, digamos], não devemos, nem podemos, esquecer que foi um regime opressivo das mais básicas liberdades. Proibiu a livre opinião e a livre associação, organizou polícias políticas e tribunais plenários, prendeu e degredou pessoas arbitrariamente. Matou, ou fez com que morresse, muita gente. E um programa deste é, em boa verdade, uma afronta a todos os que sofreram com a ditadura, a todos nós!
Também devemos esquecer que a nossa constituição proíbe expressamente a formação de organizações de índole fascista o que, indirectamente, proíbe a publicidade de ideais ou teorias fascistas. Assim, um programa de televisão – reportagem ou documentário – que seja “parcial na sua visão das coisas”, cairá neste campo da publicidade “proibida”.

O que fazer então? Limitar a expressão da opinião, individual ou de grupos? Instaurar qualquer coisa parecida com Censura, mas com outro nome? Querer que qualquer programa mais heterodoxo seja previamente visionado por uma ERC, para aferir se está de acordo com o politicamente correcto? Queremos ser, no fundo, como eles foram?
Sinceramente, acho que não é esse o caminho certo. Acho que antes de tudo, devemos crer, e lutar, pela pluralidade e pela diversidade da informação. Devemos garantir, e lutar, para que exista sempre uma oferta ampla das várias visões do que foi a Ditadura, de quem foi Salazar. E acreditar que nós todos – o povo - saberemos sempre distinguir entre o certo e o errado, entre o claro e o escuro, entre a democracia e a ditadura. Saberemos, sempre, escolher o caminho certo… Mais tarde ou mais cedo! [Vá… este referendo até pode ser um sinal disso :) ]

Creio no que disse um dia Benjamim Franklin “Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”. Perdoe-se a afronta
!

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