27 de novembro de 2006

Nove semanas e meia

Nem foram exactamente nove semanas e meia, foram mais... o que vou contar já se arrasta quase desde o princípio de Setembro. Mas tem sido um período extraordinário, durante o qual, a minha maneira de me relacionar com mundo, com as instituições e com pessoas, foi bruscamente abalada.

Em primeiro lugar, decidi mudar a linha telefónica lá de casa. De uma linha RDIS, que é mais cara e não me dava vantagens aparentes, para uma linha analógica. Esta mudança foi também motivada pela substituição do computadpor, pois pareceu-me pouco prático andar a colocar novamente uma placa RDIS. A mudança de linha foi simples... o pior foi a consequente mudança de serviço ADSL da Telapac: o que me foi garantido ser uma simples reactivação do serviço revelou-se uma longa série de peripécias.
Em primeiro lugar, e após vários telefonemas atendidos por autómatos humanos da Linha Cliente, cheguei à conclusão que era preciso enviar um fax a solicitar nova conta de ADSL o que foi feito... Depois de muitos dias à espera, e de muitos mais telefonemas para os estranhos autómatos humanos, fiquei a saber várias vezes que "havia qualquer coisa fora do normal no meu processo mas que já tinha sido devidamente reportado". Numa das vezes perguntei se aquelas chamadas eram pagas e a voz gaguejou "Não... Bem... Estas chamadas têm um custo associado" Pois, não é bem pagar, é um custozinho associado!
Ainda tentei resolver o impasse na loja Telepac de Faro, mas aconteceu o caricato de me porem novamente a falar com um dos tais autómatos humanos... Porra, ligar para aqui já eu liguei em casa, disse. Ai, sim!, admirou-se o tótó que me atendeu... Conclusão esperta: "havia qualquer coisa fora do normal no meu processo mas só em Lisboa se podia resolver... que fosse ligando".
Um dia fartei-me e disse que era tempo demais, que não entendia a dificuldade de tão simples mudança e que queria desistir e prescindir dos serviços da Telepac. Um dos tais autómatos bem-falantes disse-me que "tinha que mandar uma fax a solicitar a rescisão e que convinha indicar o motivo..." Fiquei parvo com aquele convinha, chamei-lhe parvo a ele e mandei o fax sem indicar o motivo porque desistia da Telepac.
Tramei-me... pensava que me safava com aquela coisa nova da Vodafone mas estavam esgotados e tinha 250 pedidos à minha frente... Pra mais, Netcabo não há e a minha zona não é zona Clix ou Oni. Vi mesmo as coisas pretas.
Há 3 dias ligaram-me, como se nada se tivesse passado, para informar que ia passar um técnico cá por casa para verificar a ligação e deixar o novo username. Assim foi, e num minuto tudo se resolveu! Percebi, então, que ainda estavam a tratar do meu primeiro pedido de reactivação... Desconfio que daqui a um mês e pouco me vão desligar a coisa, quando descobrirem o meu segundo fax!
Ontem recebi a factura da conta antiga, que está suspensa desde 10 de Setembro, relativa ao mês de Outubro. Telefonei para o tal número dos autómatos e disseram-me que iam anular esta factura... Esta? Mas a conta não está suspensa? E as próximas?, gritei! Isso não sei... Eu só posso anular esta factura. Mande um fax ou um mail a explicar a situação!, respondeu.
De todo este arrastar de faxes, telefonemas e esperas, tirei um proveito: tenho certeza que nós, como cidadãos, estamos muito desprotegidos perante estes gigantes prestadores de serviços. E que isto só tenderá a piorar. Fora isto, só me restou uma enorme sensação de impotência...

Em segundo lugar, decidi também questionar determinadas normas internas de Serviço... E mais que questionar, algures em Setembro, tomei determinadas atitudes e desencadei procedimentos que contrariavam claramente as normas vigentes. Estas normas, no essencial, impõem padrões de comportamento a profissionais, no relacionamento com terceiros. Em meu entender, estas normas violam diferentes Leis da República - que já normatizam a questão - e atentam contra o mais básico das liberdades individuais.
Assim, com alguma intenção mas inocente demais, atirei a pedrada e agitei as águas. Das discussões internas iniciais - informais e acaloradas - passou-se rapidamente para instâncias e orgãos superiores, onde a "guerra" passou a ser mais formal e calculista. Quase sem dar por isso, vi-me no meio e a servir de arma de arremesso, de disputas muito mais vastas.
Na prática: solicitei formalmente a revogação na dita norma e fiz dois pedidos que contrariavam explicitamente a norma; a minha hierarquia imediata - Direcção de Serviço - deu pareceres negativos aos pedidos; os pedidos foram aceites pelos orgãos superiores; a Direcção de Serviço entrou com um processo disciplinar; a norma foi revogada com base em parecer jurídico; a Direcção de Serviço suspendeu determinadas actividades e afastou-me de algumas funções; eu contestei, do ponto de vista deontológico, esta ultima decisão...
E é assim que agora estamos, numa escalada que me parece de todo estéril... Além disto, algumas relações pessoais ficaram afectadas e tudo isto veio abanar - e destabilizar - os equilibrios instáveis que quase sempre mantém uma estrutura hierárquica de cerca de 40 pessoas. Surpreenderam-me especialmente algumas reacções individuais, por exemplo a utilização de 2 posts meus do outro blog, numa reunião formal, para me atribuir determinadas intenções...
E de todo este processo, também tirei um proveito: passei a conhecer muito mais fundo a verdadeira natureza humana... E só tenho um receio: que, quando chegar o cinzento do inverno, lide muito pior com tudo isto.

Até lá, Life's Good (apesar de tudo o resto!)

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