13 de julho de 2005

O Reino que desapareceu

Nota: muito longo!

O Reino de Leão é um dos meus mistérios das história: durante mais de 400 anos foi o grande centro político dos reinos cristãos da península, o grande aglutinador da uma identidade cultural e religiosa e o grande mobilizador da reconquista militar e, de repente, esfumou-se na história. Às mãos de dois reinos seus “filhos”…

Em 866, Afonso III o Magno foi o primeiro dos reis astures a tomar o nome de Rei de Leão e, nos 200 anos que se seguiram – entre rixas de irmãos, guerras parricidas e muitos olhos vazados – o Reino de Leão foi sempre engrandecendo. Nesse tempos, embora a Galiza e as Astúrias fossem considerados reinos, apenas ocasionalmente foram verdadeiramente independentes e sempre subordinados a Leão: o seu grande rival era o Reino de Navarra – de influência Vasca e Franca –, mas os leoneses quase sempre se impuseram. E, como era costume, os Reis de Leão concederam condados às zonas mais periféricas que serviam de zonas tampão com os Reinos vizinhos e com as Taifas mouras: assim nasceram os condados de Castela (915) e de Portucale (968), sempre vassalos de Leão. Das rivalidades entre Leão e Navarra soube Castela tirar proveito, apoiando-se ora mais no seu suserano – Rei de Leão -, ora mais no seu rival, o Rei de Navarra.

A primeira rotura nestes equilibrios políticos aconteceu por volta de 1030. Seguindo os hábitos da época, o rei de Leão resolveu encomendar o assassinato do Conde de Castela, talvez por o achar demasiado emproado. E assim foi feito… Sancho Garcés, Rei de Navarra, tomado de “salva honras” – era casado com a irmã do Conde de Castela – invade Castela, invade Leão, mata os assassinos e reclama o Condado de Castela como seu legítimo herdeiro. Aproveitando a relativa debilidade de Leão, antes da sua morte entrega as sua possessões (elevads a reinos) aos seus três filhos – Navarra, Castela e Aragão. Assim nasceu o Reino de Castela em 1035– sob influência Navarra – e Fernando I foi o seu primeiro rei.

Entretanto a dinastia astur-leonesa continuava débil e, em 1037, Bermudo III de Leão (1028-1037) morre sem descendentes. Estando Fernando I de Castela casado com a sua irmã, passou a ser Fernando I de Leão e Castela (1037-1065). Como o nome diz, era rei de Leão e também de Castela. A grandeza e superioridade do Reino de Leão prevaleceu e Fernando I – apesar de navarro – manteve a identidade e cultura leonesa. Ao morrer, também divide os sus reinos pelos três filhos, Leão, Castela e Galiza. Afonso VI de Leão (1065-1109) logo tratou do sebo aos irmãos e reunificou o reino de Leão e Castela. Afonso VI o Bravo foi, talvez, o maior rei de Leão: derrotou definitivamente o Reino de Navarra, conquistou Toledo aos mouros (1081) e intitulou-se imperador. O centro político, cultural e religioso da península continuava em Leão e assim se manteve nos reinados dos seus sucessores (Urraca e Afonso VII).

Afonso VII de Leão e Castela (1126-1157) coroou-se mesmo imperador da Hispânia e é, precisamente nessa altura, que nasce o segundo reino “filho”: Afonso Henriques recusa a vassalagem e proclama-se Rei de Portugal (1143). Ao morrer, Afonso VII o Imperador volta a dividir o seu reino, pela última vez, entre Fernando II - Rei de Leão - e Sancho III - Rei de Castela. É durante esta última separação que se acentuam as diferenças e rivalidades entre Castela e Leão, nas quais Castela vai ganhando terreno… A tal ponto que Fernando II de Leão (1157-1188), casado com a filha de D. Afonso Henriques, teve que mandar o seu herdeiro para a protecção do avô em Portugal, devido ao perigo de um golpe castelhano.

E assim chega, em 1188, Afonso IX de Leão ao trono, o último rei de Leão... Este Reino ainda mantinha a sua superioridade política e cultural sobre os restantes, facto atestado pela fundação da primeira Universidade da península em Salamanca (1218). Afonso IX teve uma vida atribulada…Casou com Urraca de Portugal, filha de Sancho I, que era sua prima e, quando o Papa anulou o casamento, já tinha três filhos. Tentou resolver, a bem, os conflitos com Castela e casou com Berenguela, filha do rei castelhano… mas esta também era sua prima e, mais uma vez, o casamento foi anulado já com três filhos. Desta filharada toda, dois eram varões e ambos Fernandos… e em 1214 morreu o Fernando errado, o filho do primeiro casamento. Sobrou o Fernando do segundo casamento - que a mãe tinha levado de volta para Castela - e fora educado dentro da cultura castelhana e na rivalidade com Leão. Após a morte de Henrique I de Castela, subiu ao trono Berenguela que logo abdicou no seu filho, Fernando de Castela. Afonso IX de Leão, vendo o perigo da coroa passar definitivamente para Castela, ainda tentou enfrentar o filho, mas sem êxito. Morre em 1230 e resiste a “dar” o Reino ao filho… deixa-o em testamento às duas filhas portuguesas – Dulce e Sancha - que o vendem a Fernando III da Castela e Leão. Este sim já era um rei claramente castelhano e, em pouco tempo, os seu herdeiros passaram a ser só Reis de Castela.
E assim acabou o grande Reino de Leão… vendido ao Rei de Castela por duas princesas “portuguesas”.

Mais que o seu desaparecimento há 800 anos, impressiona o seu desaparecimento actual. Se durante muitos anos ainda constituiu uma das coroas do rei de Espanha, se durante muitos anos ainda foi uma província de Espanha, com o advento da democracia foi “engolido” da autonomia de Castilla-León. É a única nação histórica espanhola que não tem a sua própria autonomia. Completou-se o desparecimento do Reino de Leão…

Post suscitado por um outro da Luz que, como é costume, desapareceu!

PP: fui à entrevista... há muitos candidatos ao mestrado!

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