26 de junho de 2005

Rasguei um Prefácio

Rasguei um prefácio.

O prefácio é o maior insulto ao livro e ao leitor. Um livro vale e existe em si mesmo. Uma interpretação pessoal dele também. Para quê então contornar o livro, limitá-lo? Para quê influenciar a interpretação de cada um? Para quê tornar a interpretação do prefaciador e não o próprio livro o centro em torno do qual é tecida a nossa interpretação?

Um prefaciador que usa palavras mais caras que o próprio autor... um prefaciador que complexifica o que é simples quando o próprio autor cumpriu com simplicidade o que era difícil... Pode o padrinho ser mais importante que o noivo? E isto quando o noivo não legitimou sequer nenhum padrinho?

As palavras caras são importantíssimas. Servem para escrever com rigor. É na sua opção que se define exactamente os significados. As palavras caras são como bisturis que fazem a excisão da ambiguidade. Para quê usá-las quando as ideias são simples e estão bem definidas para todos?

E para quê ir mais além na metafísica e no imponderável quando o autor se limita com humildade honesta e digna ao que está ali? O prefaciador que é autor menor serve-se do livro e do autor para se pôr em bicos-de-pés. Mas não foi para ele que o livro existiu, nem é por ele que o livro é cumprido na leitura.

Desejo sinceramente que esse prefaciador com nome próprio e apelidos e existente e real morra. Ele é de certeza mais existente e real que eu: tem certamente mulher, filhos, profissão, amizades, importância, amigos e até amigalhaços. Mas a morte é o castigo justo para os vaidosos. Não por ser excessiva e definitiva. Mas porque apaga.

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