23 de fevereiro de 2005

Post político

Votei PS. Fi-lo, aliás, como toda a minha vida tenho feito, excepção feita a umas autárquicas em Lisboa, em que votei PPM na tentativa de pôr o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles na câmara.

E porque voto PS e não PSD? (Descontemos nesta discussão as extremas, que são pólos de excesso desumanizado e sem sentido). Pela mesma razão que votaria democrata ou trabalhista nos EUA ou no Reino Unido. Porque preferem uma evolução mais lenta mas mais humana, em detrimento de saltos de progresso mais espectaculares mas com danos colaterais para mim inaceitáveis. Essa é a única diferença.

Os modelos de direita moderada (republicanos/conservadores) são indiscutivelmente desencadeantes de rupturas de progresso – facilitam mais a inovação, desencadeiam crescimento económico marcado, mas fazem-no à custa de um rasto de vítimas: os inadaptados, os inadaptáveis, os mais fracos, os mais velhos, muitos dos mais novos. A caridade da democracia cristã, mesmo a séria e honesta, não a dos chás-canasta, não tem capacidade suficiente de compensar as rupturas, e isso é aparente mesmo em democracias maduras e com forte sentido de voluntariado como a britânica. As consequências sociais do tatcherismo ainda hoje se fazem sentir no interior de Inglaterra, apesar de o impulso económico resultante ter recolocado a economia britânica na linha da frente. O Serviço Nacional de Saúde britânico, até à década de oitenta uma referência mundial, é hoje uma sombra do que foi, apesar do esforço brutal dos seus profissionais para lhe manter o sentido. Do ponto de vista darwiniano alguns defenderão esta teoria. Mas não gosto.

A esquerda moderada, por outro lado, acaba por resultar em menos progresso e, seguramente, ganharia adoptando alguns modelos de maior liberalização e menos burocratizados. Mas mesmo os modelos mais burocráticos de estado-providência acabam por conseguir uma maior equidade social, ainda que seja, frequentemente, através da redução do menor denominador comum. Portugal, ainda que pobrezinho, é dos poucos países do mundo em que um tipo que mora debaixo de uma ponte pode ter um transplante cardíaco se precisar dele – e isto mesmo que depois volte para debaixo da ponte. Pode parecer irracional mas é, seguramente, mais humano do que se encontra na referência liberal do planeta, os EUA (quem viu o filme John Q sabe do que falo, mesmo descontando algumas "liberdades artísticas"). Prefiro um crescimento mais lento mas que vai dando para todos sobreviverem com um mínimo de dignidade. E creio ser possível conciliar duas coisas aparentemente em choque: crescimento inovador e solidariedade social. Ainda que seja preciso mais imaginação.

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