25 de janeiro de 2005

EXCLUSIVO DIAS QUE VOAM: Carta de Sigmund Freud a Pedro Santana Lopes

Exmo. Sr. Dr. Pedro Santana Lopes:

Eu sei que V. Exª. não quererá crer na minha análise. Posso, porém, assegurar-lhe que o meu método surge como o fruto de dezenas de experiências realizadas em adultos e crianças - sobretudo em histéricos e nevróticos mas também em normais - e do uso o mais judicioso possível
da minha razão, treinada na universidade, no consultório e no confronto extremamente duro (porém amável) com os meus críticos.

Após analisar os seus discursos, as suas atitudes, o modo como ao longo do tempo os seus tiques faciais têm evoluído; bem como após sopesar os seus "estados de alma" tão genuinamente expressos improvisadamente em directo pela televisão, as conclusões a que cheguei foram estas:

V. Exª. revela um inconsciente dominado, absolutamente dominado por aquilo a que poderei chamar de "recusa da maioridade". O seu inconsciente permanece no estado infantil. Os dados que utilizei para esta descoberta não me permitem em rigor enquadrar o seu inconsciente ao nível da primeira ou da segunda infância. Mas estou seguro de que toda a sua personalidade reflecte esse estado infantil. Dado que o seu super-ego tenta de algum modo, sempre frustrado, trazer o seu inconsciente para a maioridade, o resultado desta tensão é uma projecção da sua insatisfação íntima que se materializa ora na concepção de metáforas políticas que se viram contra o próprio autor (a incubadora) ora em ataques descabidos aos seus opositores políticos (Sócrates comporta-se como uma criança medricas).

Tentando usar palavras mais esclarecedoras, direi que é o carácter infantil do seu inconsciente que leva V. Exª. a defender-se dos seus críticos com o argumento de que não lhe deram liberdade ou espaço de manobra suficientes para mostrar os seus méritos, quando é factualmente verdade que, enquanto Primeiro Ministro suportado por uma maioria parlamentar, dispôs de espaço de manobra - poder - mais do que suficiente para revelar com autenticidade a sua qualidade política.

É esse carácter infantil que explica a sua fixação irritada no Presidente da República, ou seja, na figura política mais velha e, sob muitos aspectos, mais estável. O seu inconsciente estará porventura a passar apenas agora pelas agruras do complexo de Édipo e, daí, o seu rancor injustificadamente amargo para com o "pai" que lhe entregou o poder sem exigir o preço de umas eleições legislativas em Agosto de 2004. É esta fixação que o leva a desviar-se daquilo que seria o seu natural objectivo: atacar o líder da oposição.

É bem sabido que a curiosidade por todas as coisas e o desejo de apoderar-se delas é atributo da maioria das crianças. Com isto em mente e tendo em conta o meu diagnóstico, torna-se compreensível a tendência sistemática de V. Exª. por desejar todos os cargos (Presidente de Câmara, Presidente de Clube, Presidente de Câmara outra vez, Presidente de Portugal, Presidente de Partido, Presidente de Governo) num primeiro momento e por rejeitá-los ou não consumá-los inteiramente após se ter instalado neles.

Aliás, essa predisposição diletante para deixar a meio os mandatos terá sido determinante na adopção de políticas e atitudes arriscadas que poderiam ser tomadas como justificações para uma demissão do governo por parte do Presidente da República (o menosprezo pelo parecer da Alta Autoridade para a Comunicação Social a respeito do caso TVI/Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo).

A sua maneira de ser comporta também uma inveja (escamoteada) pelo "irmão mais velho": Marcelo. Tal como as crianças, é incapaz de admitir que haja alguém da família que, não estando ao nível dos pais, possa ser melhor, mais experiente, mais sábio e até mais alegre. Tal como nas crianças, pesa-lhe sobretudo o facto de que o irmão mais velho seja recebedor dos maiores carinhos e dos melhores elogios. Marcelo é inegavelmente mais popular do que Pedro. E quer pelos factores da idade, quer pelas causas inatas e adquiridas, Marcelo é em tudo melhor que Pedro.

A finalizar, menciono brevemente ainda outras facetas da similitude do seu comportamento com o das crianças. Constatei com algum pesar a sua aversão pela obediência a regras estabelecidas para todos, passando por baixo delas (o túnel do Marquês) ou por cima (o Casino), e o seu desprezo pelas críticas que com sensatez lhe eram dirigidas por uma larga maioria de pessoas (o mau gosto, a desproporção e o despesismo dos cartazes da "Lisboa mais Bonita"). Refiro também com algum desgosto que actualmente é muito mais frequente vê-lo em estado de birra do que em estado de boa disposição. Espero que isto não denote uma tendência de recrudescimento da sua "recusa da maioridade".

Saudações cordiais

Sigmund Freud

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