12 de outubro de 2004

Paraíso Inesperado

Estive ontem na Fnac do Almada Fórum. Fiquei maravilhado. Àquela hora na Fnac do Colombo seria um mar de gente. Mar de gente também por todo o Colombo. Na Fnac de Almada, eram mais os empregados do que os visitantes. Num ponto de escuta em vez de filas havia dois lugares vazios. Em cada secção da área de livros havia sempre um empregado livre. Nunca vi uma Fnac com tão pouca gente num horário daqueles e com tantos empregados prontos para ajudar.

Fora da Fnac, no centro comercial, sempre pouca gente. Os empregados das lojas, pelo menos das 3 lojas de computadores, todos incrivelmente eficientes. Fiquei espantado.

A melhor experiência foi a compra de uma camisa. Este foi até agora o acto de compra-venda mais eficiente, bem-educado, elegante e cheio de mais-valias de toda a minha vida em Portugal. O acto acabou por ser melhor e mais importante que a própria camisa. Um dos melhores elementos desse acto foi uma das coisas que, para mim, é um mínimo de boa-educação mas que nunca acontece: em vez de deixarem o saco ou o pacote em cima do balcão, a mulher de ontem agarrou no saco, saíu de trás do balcão e entregou-o em mãos e olhos nos olhos. Em mãos e olhos nos olhos é, para mim, um mínimo de boa educação e de simpatia e, já agora, de humanismo, é o que deveria distinguir o atendimento humano do automatismo das máquinas de cafés e chocolates.

Desde há bastante tempo que reconheço que a minha vida está um bocado saturada de centros comerciais. Vagueio no Colombo como quem anda perdido por ruas e vielas. Sinto a compulsão de ver montras por mais não significativa que essa actividade seja para o sentido de uma vida. E, no entanto, sinto-me entusiasmado por conhecer mais um novo centro comercial. Andei no Almada Fórum como se fosse a primeira vez na vida que viesse ao um centro comercial.

Eu sei que estas minhas preferências têm pouco a ver com aquilo que supostamente deverá constituir o estereotipo de alguém interessante, que não seja fútil, etc.. Mas os centros comerciais fazem, de facto, parte da minha vida.

Só lamento é que isso talvez não seja o resultado de uma verdadeira opção. Onde estão as alternativas?

Onde estão os grandes jardins onde seja possível ler sozinho sem ser importunado por alguém que peça trocos? Onde estão os prontos-a-comer virados para o rio e na proximidade de relvas limpas onde se possa jantar em modo pic-nic? Onde estão as bicicletas de aluguer disponíveis em máquinas automáticas? Como é que se vai para Monsanto e onde é que se pode estacionar o carro, tendo em conta que os transportes públicos para ir lá ter são obscuros?

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