26 de outubro de 2004

o senhor alfredo

junto à estação de queluz, ao lado da taberna do 'vingança', vinhos e comidas, ficava o sr. alfredo

tinha o que hoje se chama um quiosque, uma banca, uma barraca de venda, o que vossas excelências que quiserem que seja.

era uma espécie de estante com portas verdes de metal.

o senhor alfredo era grande.
o senhor alfredo coxeava de uma das pernas.
o que lhe dava, estranhamente, um ar mais afável.

o senhor alfredo foi o responsável por boa parte da minha educação literária.
(mais tarde, aí pelos meus 13/14 anos, esse 'trabalho' passaria para um grupo de tipógrafos e jornalistas do 'diário de lisboa', a que talvez volte um dia destes..)

o senhor alfredo vendia livros usados.
livros aos quadradinhos, que mais tarde identificaria por banda desenhada (pois que não me identifico com a nóvel tendência 'comics').

o senhor alfredo vendia livros usados e trocava os que já lhe tínhamos comprado por outros que queríamos ler.

graças a ele conheci o flash gordon, ainda na versão alex raymond, mais o príncipe valente, o lance, o cisco kid, os sobrinhos do capitão, o capitão tempestade, o tarzan, o dick tracy, o ferdinando (que mais tarde chamaria l'il abner) o homem-borracha, o mandrake, o sargento kirk, o jim das selvas, e outros personagens menores mas igualmente apaixonantes como o lúcio, o xerife, o david croquete (era assim que o chamava), o buffalo bill.

aí trocava um falcão por um mundo de aventuras e um condor popular.
aí trocava um cavaleiro andante por um falcão e um mundo de aventuras
ai, mesmo quando não tinha dinheiro nem livros para trocar, o senhor alfredo deixava-me ler os livros, desque que os não levasse de lá.

a ele devo os primeiros contactos com a palavra escrita. a descoberta dos livros.
a ele devo algo do que sou hoje

obrigado

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