16 de julho de 2004

isto está tornar-se um blog musical... mas voltemos ao assunto

primeiro a questão dos rótulos.
desde há muito tempo existe a tendência para rotular as músicas.
se não classificamos a música do bach, do mozart, do del encina, do janequin ou outros em décadas (porque as dizemos, agora, intemporais), é porque a classificamos em estilos ou épocas.
da medieval, ou renascentista, ou barroca, ou clássica, ou romântica, ou contemporânea para resumir a coisa...
por razões que terão a ver com a rapidez do desenvolvimento da sociedade, também na música os estilos e as influências mudam muito mais rapidamente a cada dia.
se uma época musical já durou séculos, agora um estilo pode demorar um disco.
por uma questão de facilidade rotulamos as coisas.
o janequin fazia música que, pela sua estrutura, pela complexidade dos arranjos vocais e da utilização das onomatopeias, não tinha nada a ver com o que estava à volta. mas chamamos musica renascentista a ele como ao palestrina ou ao josquin de près.
a musica que o william bird, o thomas morley e outros produziam na sua versão laica ou cervejeira não tem nada a ver no estilo (e muito menos na linguagem, que chegava á pornografia pura e dura) com a produção dos seus madrigais. mas é tudo renascimento inglês.
a ideia das décadas começou, com efeitos retroactivos, com a década de 60, porque aos 'críticos' pop/rock dava jeito ter as coisas arrumadinhas para despachar uma 'críticas' mais facilmente rotuladas. neste momento já ninguém arrisca a falar em estilos ou correntes por décadas.
mas... quanto a achar que a música produzida num determinado intervalo de 10 anos foi mais pobre ou mais rica que noutra, aí recuso-me
por razões que têm a ver com a impossibilidade
em todas estas décadas existiram excelentes musicos, como existiram excelentes merdas.
(continuo a achar os abba na segunda categoria... lamento imenso informar. até pela assunção (pelos próprios) do propósito que tinham quando se decidiram a começar a compor: romper a corrente existente ao tempo na suécia, em que a música era socialmente comprometida, diziam eles).
para mim, a excelência da música não tem a ver directamente com a variedade de acordes utilizados, facilidade de 'trauteamento', maior ou menor pirotecnia vocal por parte dos executantes. se assim fosse, gostava imenso da celine dion. é tecnicamente perfeita (que bom para ela..)
é a mistura de imensas coisas, a maior parte delas inexplicáveis. apenas sentíveis.


em jeito de post scriptum...
porque o abs falou nele.. recomendo que oiçam o disco da norma waterson, 'the very thought of you' em que ela canta uma canção do nick drake (river man) e a que o john martyn escreveu após a sua morte (solid air)
um dia destes recomendo mais uns discos....

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