6 de dezembro de 2003

As horas

The hours é um fabuloso romance de Michael Cunningham. Ganhou no mesmo ano o Pulitzer e o Pen/Faulkner (1999), tendo sido o terceiro romance do autor. Os anteriores A home at the end of the world (1990) e Flesh and blood (1995) são fortíssimos, particularmente o primeiro. A homossexualidade está presente, por vezes de modo violento, nos três livros, mas não constitui nunca o tema, sendo antes um veículo de descrição para situações particulares e enquadramentos vários. Voltando a The Hours: trata-se de uma variação (e de uma extraordinária homenagem) sobre Virginia Woolf e o seu livro Mrs. Dalloway, usando expressões inteiras da obra de Woolf e retirando parte da sua estrura para a personagem de referência da história. Quem lê The hours acaba invariavelmente a ler, ou reler, Mrs Dalloway. The Hours tem a cadência de uma suite de jazz: plácida, tranquila, complexa, mas com sentimentos fortíssimos borbulhando logo abaixo da superfície.

O filme faz justiça ao livro e isto é dizer muito. Não há um interveniente que não seja magnífico: Kidman, irreconhecivelmente transformada; Moore, tensa de cortar à faca; Streep, em permanente risco de explosão sem, contudo, explodir nunca; Ed Harris, a imagem destruída do desespero (no livro, pior, do talento (ou não?) incompreendido).

Depois há a música de Philip Glass, belíssima, expressiva, pungente. Os olhos do filho de Moore, adoradores, ao som de Glass, são como um murro no estômago. Glass, aliás, tem sido responsável por grandes bandas sonoras (oiça-se, por exemplo, a banda de Kundun, de Scorcese, outro momento superior de cinema).

Quem não leu ou não viu ou não ouviu não imagina o que perde.





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