10 de novembro de 2003

Polícias do mundo

Tenho trocado algumas ideias, e pensado um pouco, sobre o papel que os americanos se atribuem a si próprios. Um tema em voga...
Estranho essencialmente o facto de tanta gente estranhar o seu pendor para polícia-do-mundo.
Estranho porque essa sempre foi a função de algumas nações e povos. Parece-me ser uma condição inerente ao desenvolvimento e preponderância quer no campo económico, quer no cultural. Ou seja, se uma nação adquire determinada relevância, tende a fazer tudo para manter o status-quo.
Sempre assim foi, desde que o mundo é mundo, desde que começou a globalização e os horizontes dos povos se alargaram para além do seu pequeno umbigo.

Começando pelos romanos! No fundo a sua expansão iniciou-se por motivos económicos: as Guerras Púnicas com Cartago visaram essencialmente o domínio do comércio no Mediterrâneo ocidental. Dominado este, já agora também se domina o oriental e, de caminho, vai-se à fonte da cultura: a Grécia. Depois houve que pacificar as regiões envolventes, e então dominaram-se os bárbaros.
Desta forma, e durante mais de quinhentos anos estes romanos foram os polícias-do-mundo, de todo o mundo que conheciam e lhe chamavam Mare Nostrum.

Caído o império vieram as modas das religiões. Cada qual queria ser o policia-do-mundo através da supermacia moral da sua religião, enquanto, lá bem no fundo, lutavam para dominar as principais vias económicas desse mundo que se ia alargando. Assim o Papa de Roma lutava contra o Imperador do Sacro Império Germânico, pela autoridade no ocidente. Ambos se uniram contras os Patriarcas de Constantinopla, senhores do Corno de Ouro. E todos combateram a nova ordem mulçumana que vinha de leste.
Durante centenas de anos ninguém conseguiu esse tal papel de polícia-do-mundo e, talvez por isso, existiu a Idade Média.

Com os Descobrimentos de novos mundos chegou a vez dos Ibéricos (nós!). Esses fizeram o que ninguém fez, reuniram-se nas Alcaçovas e em Tordesilhas e dividiram o mundo ao meio: nesta metade mandas tu, nesta eu! Extraordinário... Para nós foi sol de pouca dura, era claramente areia demais, de modo que achamos por bem dedicarmo-nos ao que fazemos melhor: uns biscates aqui e ali.
Os Castelhanos não e, com Carlos V e Felipe II, foram verdadeiros polícias-do-mundo. Até que numa madrugada de 1589 tudo foi ao fundo, ali para os lados da mancha...

Tinha chegado a hora dos Britânicos. Com a sua famosa armada e, a não menos famosa, rede comercial lançaram-se à conquista do planeta. Encontraram pela frente a França, escudada na sua superior cultura e no iluminismo do Rei-Sol. Esse explêndido embate atingiu o seu máximo com Napoleão: o terrível choque entre a enorme potência marítima e a grande potência continental. Ganharam os ingleses, como se sabe, e em todo o Século XIX policiaram o mundo.

O século XX trouxe-nos de novo uma potência continental, a Alemanha, rapidamente destruida em duas curtas guerras mundiais. Foi precisamente nessas guerritas que surgiram os tais americanos, até então entretidos a desbravar o Far-West e a matar Indios e Mexicanos. Com a Segunda Guerra Mundial e o fim do Impéro britânico tudo se alterou, duas novas potências disputaram o tal papel de polícia: a América e a União Soviética. Sabe-se quem ganhou e, diria eu, teremos que os gramar durante uns anitos (quiça todo o século XXI...).

Isto só para dizer que, aquilo que os americanos fazem agora, já todos o fizeram ou tentaram fazer. É apenas defender a sua visão das coisas e a sua maneira de estar no mundo.
Mundo que agora é enorme mas, e ao mesmo tempo, cabe dentro das nossas casas.

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