6 de outubro de 2003

A propósito de uma multa.

Estava previsto este fim de semana ser calmo repartido entre a casa e uma breve volta de mota. Uma doença súbita de um familiar levou-nos à velha terra.
Resultado ao intervalo: o doente está bem melhor mas, na viagem de volta, fui apanhado por um radar a 123 Km/hora, quando deveria ir a 90 Km/hora.
Resultado final: multa de 120 Heróis e possibilidade de inibição de condução entre 1 e 12 meses.
Prolongamento: vim o resto da viagem a pensar como hei-de escrever o requerimento para tentar impugnar o mais que for possível. Ou seja, vou tentar forçar uma ilegalidade à moda da Diana. Espero conseguir. Espero que nenhum jornalista descubra. Ou ainda cai um Governador Civil…

Isto lembra-me algumas conversas que tive nos últimos dias sobre o problema da filha do Embaixador. Um colega meu achou a pior coisa do mundo, a face visível do monstro da corrupção…
Eu também acho muito mal, mas faço notar que eles são apenas uns de nós! Um ministro não nasce ministro, nem muda de repente quando passa a ministro, ele continua a ser um de nós. E nós gostamos, ou não nos importamos, de forçar, ou de ser coniventes com, ou mesmo de autorizar pequenas violações de regras, normas ou leis, quando temos a vaga noção que não prejudica ninguém. Quem nunca o fez, que se acuse!
E assim, um de nós, quando é Comandante de Bombeiros pode autorizar umas voltinhas no helicópetro. O piloto até está de folga, nem há fogo, o Estado tem cacau de sobra… não prejudica ninguém (nota: o Estado é ninguém!).
E assim, um de nós, quando é Secretário de Estado pode emprestar o carro de função a um amigo para dar umas voltas. Ele até é um gajo porreiro, precisa mesmo do carro… não prejudica ninguém.
E assim, um de nós, quando é Ministro pode autorizar a entrada da miúda para Medicina. Ela é boa estudante, boa rapariga, até merece… e não prejudica ninguém!
Somos nós todos. Só quando nós todos nos habituarmos a cumprir as pequenas regras que desprezamos no dia-a-dia, é que estas casos acabarão.
E até lá teremos uma enganadora sensação de justiça quando o corrupto é obrigado a demitir-se.
Eu diria que isto são “fait-divers”, porque. no fundo, no que importa eles passam impunes. O que é aconteceu aos tipos do fax de Macau? O que é que aconteceu ao ZéZé e ao Costa Freire? Como terminou o caso dos hemofílicos infectados? E os cabecilhas das FP-25 de Abril, onde estão? E como irá terminar esta história da pedófilia?

Só para terminar estas profundas refelxões: há dias exprimi alguma crítica acerca da “marcha branca”. Sobre isso recomendo a leitura do post do Mata-Mouros de 26-9-03 intitulado “Não vou à marcha branca” e um artigo de opinião de MST no Público de 3-10-03.

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